A cara da Ilha por Felipe Silva
Se o cara parar um pouco de prestar atenção na torcida do Avaí durante os jogos, vai se divertir um bocado. O jeito de falar, as expressões, o verdadeiro dialeto das arquibancadas mostra o que há de mais importante na trajetória de 85 anos do Leão da Ilha: ser o time com a cara e o jeito de Florianópolis e região. Não é à toa que nos chamam "catadores de berbigão" ou "peixeiros", que nem vi outro dia numa discussão na internet. Somos mesmo, "com muito orgulho e muito amor", como diz a canção.
Quando Marquinhos bateu o pênalti contra o Barueri e o goleiro quase defendeu, não teve um "ai, que susto o Marquinhos me deu". Teve:
- Meu Deus, ô! Que cagaço que ele me deu!
Do mesmo modo, Marquinhos nunca foi "Marquinhos, o loiro" pra torcida do Avaí, pra diferenciar do Marquinhos Júnior. Ele sempre foi o "Marquinhos, o galego". Pode ser que nem todos os galegos (os da Galícia) sejam galegos, mas pra quem vive nesse pedacinho de terra belo por natureza galego virou sinônimo de galego ("loiro", pra quem não entende)l
Qués mais?
Sábado à noite o Odair tava demais. Corria feito um louco pra lá e pra cá, trombava, dava carrinho, driblava, uma, duas, três vezes. "Endiabrado"? "Possesso"? Que nada! A melhor definição foi essa, de mais um sábio das arquibancadas:
- Uh, ômi atentado, esse Odair!
Odair, "o atentado". Se alguém de fora o vir com aqueles cabelos compridos e rebeldes e saber que ele foi apelidado de "atentado", vai achar que é terrorista. Mas nós sabemos que um cara atentado é apenas um cara atentado, nada mais que isso.
Na Ressacada também não existe caneta, nem chapéu, nem embaixadinha. É peruzinho, balãozinho (ou chapeuzinho, no máximo) e pianinho, tudo com inho, pra não perder o bom manezês.
Martini fez um gol com um chutão pra frente, certo? Errado. Ele deu um bago. Ou melhor, um bagão, já que foi forte pra dedéu o chute dele. E o Abuda? Ah, o Abuda. Tá machucado. Opa, nada disso. Tá pisado, por mais que ninguém o tenha pisado, e sim ele é que pisou um buraco lá em Marília. Mas ele tá pisado e ponto final. Mas logo logo ele vai sarar e voltar com tudo.
Pra avaiano, não existe "tu nasceste", como manda a gramática, nem "tu nasceu", como diz o gaúcho. É "tu nascesse", se queres falar informalmente, ou "tu nascestes", quando queres falar bonito, como na hora do hino: "Avaí, meu Avaí / Tu já nascestes campeão...
"E, se "Avaí", apesar de ser um nome lindo, às vezes complica na hora de cantar, o mané acha um jeito, como sempre espontâneo: chama de Avaê, oras!
Essas são apenas algumas expressões que ouvi no último jogo contra o Barueri. Vou prestar atenção nos próximos, quem sabe saem umas boas . Tinha um cara num jogo contra a Chapecoense no ano passado - não, não aquele fatídico jogo deste ano - que repetiu umas 578 vez "uh, seu excomungado!" pra algum jogador que não lembro quem era. E outro que me mandou essa: "eu me arreneguei ["fiquei nervoso/puto"] e joguei meu raidinho no chão!".
Esse é o Avaí, azul e belo como Florianópolis, simples e espontâneo como os manezinhos da ilha e de todas as partes, seja de nascença ou de coração. E se não gostas muito dessas coisas, saiba que Florianópolis é tão maravilhosa que até tem outras opções de times pra torcer. Vai fundo.
2 avaianos comentaram:
É um excelente texto mesmo!
Saudações Avaianas
Leandro
bacana o texto, show de bola.
forte abraço
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